quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

a nossa palhaçada



Em muitos países da África e do mundo fala-se que fala-se sobre a necessidade de dar espaço à participação dos jovens na vida social e política do país através das suas ideias que se julga serem inovadoras. Essa necessidade recai principalmente aos jovens estudantes que se julga possuírem alta capacidade de observação, análise e avaliação dos factos que no dia-a-dia ocorrem na sociedade.

Isto verifica-se também em Moçambique onde, desde a independência tem-se incentivado a participação da juventude na vida social e política do país através de ideias inovadoras, o que continua até aos nossos dias. Desde 2005, altura da tomada de posse dum novo governo, com Armando Guebuza como presidente, vem-se enaltecendo esta necessidade e, a par disso, incentiva-se aos jovens recém-graduados para trabalhar nos distritos(considerado pólo de desenvolvimento).

Porém, muitos são os casos que comprovam a desvalorização e marginalização dos ideais dos jovens formados e formandos por parte dos dirigentes(políticos), relegando-os para o segundo plano.

O presente artigo é a propósito dum facto que se vem registando desde 2005. Trata-se da introdução dum programa de concurso de descoberta de novos talentos na área musical, promovido por um canal televisivo de Moçambique com os seus parceiros, denominado FAMA SHOW. Este programa arrasta milhares de moçambicanos que, directa ou indirectamente participam do concurso, desde os que o vêm em directo nos locais da sua realização, outros em casa através da televisão, até aos que, por afecto moral ou por uma relação parentesca, votam nos participantes.

Destes participantes fazem parte diversas camadas da sociedade. Figuras públicas e políticas aproveitam igualmente esta ocasião para divulgar a sua imagem através de visitas aos participantes e/ou investimentos para apostar num certo candidato, falo concretamente de deputados, dirigentes políticos, empresários, dirigentes de instituições públicas e privadas, etc, etc...

Na última edição deste concurso, a vencedora foi uma participante da província de Inhambane e, como se sabe, para se sagrar vencedora, ela contou com o apoio de quase todos residentes da província, incluindo os presidentes dos municípios de Inhambane e Maxixe, segundo afirmaram ao público numa entrevista concedida na última gala deste concurso. No seu regresso à província, a vencedora foi recebida com pompa, numa cerimónia organizada pelos municípios acima mencionados.

Mas não é isto que me preocupa neste momento. No dia 29 de Janeiro de 2008, numa bela manhã, ia eu à máquina da ATM do Barclays quando de repente, no espaço aberto do Hotel Inhambane, vejo a vencedora do FAMA SHOW edição 2007 na companhia do presidente do município de Inhambane, tomando uns sumos e quem sabe, discutindo acerca dos projectos da nossa vencedora.

Aí recordei-me da “nossa palhaçada”, nós os universitários desta província que, no período de férias, tentamos idealizar isto e aquilo, no sentido de, com as nossas ideias, ajudar o município e o governo na luta pelo desenvolvimento da cidade, da província e do país em geral. Contudo, somos muitas vezes ignorados e não temos espaço para fazer valer as nossas ideias, talvez sejam utópicas ou acima da capacidade e necessidade dos órgãos de governação local.

Numa dessas nossas palhaçadas, solicitamos apoio no sentido de o Conselho Municipal da Cidade de Inhambane conceder uma viatura para uma deslocação para uma das praias de Inhambane com o objectivo de convivermos entre universitários de Inhambane o que serviria igualmente para nos despedirmos do resto dos irmãos visto que, o período de repouso já terminou. Nisto tudo, o Conselho Municipal respondeu favoravelmente só que, chegado o dia marcado, nada ocorreu conforme o previsto. Foi nos dado um camião, por sinal o que faz carregamento de lixo para segundo eles, com ele nos deslocarmos à praia. Engraçado não é?

Dai me questionei, afinal, a quem se deposita a esperança do progresso da província. Os futuros quadros são marginalizados e relegados para o segundo plano e em contrapartida dá-se maior atenção a um vencedor de concurso de música que, julgo eu, nem ideia de como gerir seu prémio tem. Não quero aqui condenar a menina Lichucha, pelo contrário, sou apologista dos seus feitos, quero sim chamar atenção aos órgãos e membros do governo local e central no sentido de tomar consciência das suas acções e prever as respectivas consequências.

Será que a música garante-nos um futuro promissor? Que atitude se espera dos estudantes que neste momento são marginalizados e ignorados, depois do término dos seus cursos? Que não venham posteriormente reclamar a fuga de quadros da província e do país, isto será resultado do vosso comportamento no presente.

Alvo Naftal Ofumane