sexta-feira, 15 de abril de 2011

Carta aberta ao Presidente da República extensiva a todos líderes Africanos

Sua excelência Presidente da República de Moçambique

Antes de mais permita-me manifestar a minha insegurança e receio por esta ousadia (escrever para vossa excelência).

Sou um simples cidadão moçambicano, jovem (geração do segundo quinquénio da década de 80). Não me assimilo com nenhuma formação política no país, porque defendo princípios que podem não compactuar com comportamento político nalgumas vezes ou situações. É por essa razão que tenho a liberdade e alegria de conviver com todos os cidadãos moçambicanos sem limitações e sem colocar condicionalismos ou olhar para a cor da camisola que um indivíduo traz.

No entanto, isso não me limita nem me impede de participar e contribuir activamente na vida política do meu país e do mundo. É por essa razão que, tanto o Sr. presidente da República de Moçambique, tanto alguns cidadãos e actores políticos influentes da nossa sociedade, como o caso do cidadão Armando Guebuza, os partidos e/ou cidadãos que se dizem da oposição em Moçambique, escapam das minhas críticas, quando agem de forma que considero incorrecta, ou quando as suas atitudes e/ou acções prejudicam ou põem em causa os interesses e necessidades da nação Moçambicana. Para tal, tento fazê-lo sempre com cuidado e respeito, tentando ser o mais racional, lógico, objectivo e imparcial possível, mas olhando sempre para os interesses dos cidadãos e do país.

É nesta óptica que, reconheço o esforço do cidadão Armando Emílio Guebuza, como combatente da luta de libertação Nacional, como defensor da causa e interesses da nação e o esforço e empenho que têm dedicado ao país, como presidente da República, e aproveito desde já agradecer por tudo que já fez por Moçambique. O mesmo reconhecimento vai para todos aqueles que deram ou que continuam a dar o máximo de si para o bem-estar do país e dos moçambicanos.

Da mesma forma que não fecho os olhos para (fingir) não ver o que as pessoas fazem de bom, também não deixo de questionar e reflectir sobre alguns acontecimentos e realidades que me inquietam no meu dia-a-dia como cidadão deste país. Falo concretamente do "fenómeno" de obtenção ilícita de riqueza por um grupo de cidadãos moçambicanos, incluindo figuras políticas, algumas das quais ocupam cargos de maior responsabilidade no governo de Moçambique. Considero enriquecimento ilícito pela falta de transparência em muitos processos de criação e gestão de empresas no país, assim como algumas participações em empresas. Espero que o meu argumento para justificar a ilicitude na obtenção de riqueza esteja claro, não necessariamente convincente.

Quero igualmente manifestar o meu desagrado e insatisfação por alguns "políticos de garagem", bem como alguns "jovens cegos e lambe-botas", que se dizem patriotas e defensores dos interesses do cidadão moçambicano, quando na verdade querem uma porta que lhes dê acesso à "sala magna e restrita" de oportunidades, para tirarem benefícios pessoais. Quero também desde já chamar atenção da Sua excelência para este tipo de jovens, eles são muito perigosos. Estou em crer que o Estado Moçambicano não investiu muito dinheiro para a formação destes jovens (porque a maioria foram beneficiários de bolsas de estudo do governo moçambicano), só para serem "yes boss", porque se esse fosse o objectivo, não haveria necessidade de os formar. Eu acredito, Sr. Presidente, que o Estado formou esses indivíduos para poderem contribuir na construção dum Moçambique próspero, mais livre (de qualquer ameaça) e harmonioso, através de críticas abertas ao que não estiver correcto, sem olhar para quem seja dirigida a crítica. Quanto aos "políticos de garagem", quero igualmente chamar a sua atenção, Sr. presidente, porque, a par dos jovens "lambe-botas", estes são também perigosos, poderão vender o país, abrir as portas para o inimigo, tal como está acontecer particularmente na Líbia.

Aliás, é exactamente sobre os movimentos de revolta na África do norte que me dirijo à Sua excelência, com especial atenção à Líbia, dado que tem características específicas.

Quando estes movimentos tiveram início na Argélia e tiveram maior repercussão e impacto na Tunísia, seguindo-se para o Egipto (prefiro escrever assim porque originalmente é Egypt, não vendo razão, por isso, para escrever Egito), estive do lado do povo que reivindicava a melhoria das suas condições de vida e fim de regimes "ditatoriais". Nessa altura, acompanhava também as reacções da dita comunidade internacional, comandada pelos Estados Unidos da América e Nações Unidas (não sei se há diferença entre Estados/Nações Unidas, mas deixemos isso para lá), esta que apelava a calma e a uma transição pacífica.

No entanto, logo depois da capitulação (prefiro assim chamar) de Mubarack, a onda subiu para a Líbia, mas parece-me que aqui não foi a mesma onda, aqui vi uma onda ocidentalizada. Na Líbia vi centenas, senão dezenas de civis nas ruas, nas mesmas proporções que no Iémen, Argélia e Bahrein. Para o meu espanto, um dia depois já estavam lá homens armados, que ao invés de levantar cartazes com variadas escritas, tinham armas em punho, ai questionei-me, será esta uma evolução da forma de manifestação, que substitui marchas pacíficas com cartazes, por armas? Até o momento ainda não encontrei resposta dentro de mim. Para a minha maior admiração ainda, as Nações/Estados Unidos, chamaram a estes indivíduos de rebeldes, até aqui tudo bem, porque o são, mas as mesmas Nações/Estados Unidos, com Obama como rosto de cartaz, subiram imediatamente ao pódio para impor (não apelar) que Kadafi deve abandonar o poder e, no dia seguinte as mesmas pessoas se reuniam para impor "duras" sanções contra a Líbia. Com a resistência do Coronel Kadafi, os mesmos reuniram-se dias depois para suspender a Líbia do Conselho de Direitos Humanos da dita ONU, para depois "inventarem" uma resolução que os autorizava a matar os líbios (pois é, porque para mim não importa de quem venha o tiro, este não escolhe o alvo). Claro que faz todo o sentido, depois de suspender a Líbia dos Direitos Humanos, implica que os líbios perderam automaticamente os direitos humanos, ou seja, já podem ser mortos "legalmente" (isn´t that Mr. Obama?).

Eis que no dia seguinte começaram a exibir o seu instinto animal, atirando mísseis e bombas que custam biliões de... (não sei qual é a moeda). Mas para usar 25% desse valor na compra de comida ou investir para criar emprego para as vítimas de pilhagem e guerras em África, a justificação é a mais clássica e irrefutável (crise global...), enfim... No entanto, na mesma altura, milhões de cidadãos japoneses precisavam de água, comida, abrigo e aqueles aviões usados para matar pessoas na Líbia, para resgatar outros milhares que continuavam (continuam) nos escombros. Onde estava a OMS? (Japan has no oil...hahahahaha).

Mas em todo este processo, o que me deixou angustiado e raivoso, foi o facto de alguns ditos representantes de países Africanos terem apoiado os imperialistas para matar pessoas na Líbia.

Meus caros combatentes das lutas de libertação em África, tenho sinceramente muito respeito e orgulho de terem deixado a vossa juventude para lutar pelas independências e defender a liberdade dos vossos povos, e mais uma vez agradeço porque foi graças a vossa coragem que nasci e cresço livre, talvez seja por essa razão que sou muito sensível quando há indícios da perturbação e ameaça das nossas liberdades e independências. Indivíduos que se dizem defensores de direitos humanos, de liberdades individuais e auto-determinação dos povos, hoje estão a voltar meus combatentes, para nos declarar incompetentes e dizer que não estamos em condições de guiar os nossos próprios destinos.

Neste contexto Excelência, quero, através desta carta, manifestar a minha inquietação com relação as novas formas de subordinação dos Africanos, e que a mesma seja partilhada com os demais dirigentes africanos, de modo a que seja reflectida na agenda e debates da União Africana e outros fóruns, com o objectivo de criar bases sólidas e potenciar a solidariedade entre os povos africanos, porque parece-me que num futuro recente, ou melhor, já estamos a precisar desta união, para combater um velho e conhecido inimigo, que volta com as mesmas tácticas “dividir para reinar”. Esta é, sem dúvidas, uma preocupação manifestada por um moçambicano anónimo, mas pode ser de muitos outros africanos que se preocupam com os últimos acontecimentos no continente.

Pode parecer coincidência, mas consideremos o seguinte facto: Muammar Kaddafi é um seguidor incansável dos ideais de Kwame Nkrumah, Samora Machel e demais líderes defensores da coesão entre os africanos, o que ao acontecer, colocaria em causa muitos interesses (ilícitos) económicos e políticos de potências ocidentais (que se intitulam comunidade internacional e por isso se vêem no direito de arbitrar injustamente a vida dos outros países). Portanto, Kaddafi constitui grande ameaça para eles.

Não estou a favor da morte de civis, seja na Líbia, seja num outro país, mas que fique bem claro que, independentemente das ditas convenções "impostas" aos países pobres, ninguém tem o direito de autorizar que se bombardeie outro país sob falsos pretextos. Já fizeram isso no Iraque, as Nações unidas autorizaram a matança de pessoas e consequente criação dum caos no país, e já o fizeram em tantos outros países. Um grande homem que tanto o admiro, talvez porque tenha morrido sem descarrilar, Martin Luther King Jr. dizia, e com toda razão "Os ocidentais são arrogantes e ignorantes, pensam que podem ensinar tudo ao mundo, mas nunca querem aprender dos outros”.

Já me desculpei pela minha ousadia, Sr. Presidente, talvez alguns questionem o porquê de me preocupar tanto com assuntos de outros países, mas para mim isto não é de outro país, isto nos afecta directamente, e mais dias ou menos dias, poderemos ser vítimas da conspiração, aliás, já somos. Recordam-se dum falso espião que quis abanar o nosso país, listando traficantes sem nenhuma investigação e sem nenhuma fonte?

ALERTA VERMELHO, tomemos cuidado meus compatriotas, mantenhamos a cultura e espírito de resolver os nossos próprios problemas sem interferências.

Há muito que se pode falar deste mundo doente e em perigo Sr. Presidente, mas por agora, e com a sua permissão, termino esta missiva, com votos de bom trabalho a si e a todos os moçambicanos.

Kanimambo,

Alvo Ofumane

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Saudades de Samora!



Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique, faria hoje (30 de Setembro) 76 anos caso fosse vivo. A seguir vem uma pequena reflexao a respeito de Samora Machel.
as imagens foram retiradas do blog de Carlos Serra

Saudades tuas pai da Nacao, nao te conheci em pessoa, mas conheco-te pelos teus feitos, os quais a historia dignou-se a registar, e espero fielmente.

Na mesma historia consta tambem que nao te simpatizavas com atitudes (ambiciosas no sentido negativo) de alguns dos teus (digamos nossos) camaradas (no verdadeiro sentido do termo).
Estes camaradas, saudoso presidente, hoje usam a sua imagem (do arquivo) registada e recriada gracas as novas tecnologias, para fortalecer a sua campanha, porque sabem, e muito bem, que no's, os verdadeiros compatriotas, te admiramos e sentimos saudades imensas tuas. mas recorri ao uso da sua imagem, saudoso presidente, para descrever dois cenarios e te colocar uma questao que sei que nunca me vais responder, poderemos apenas debater com os meus compatriotas. e' o seguinte: por um lado, jovens inspirados nos teus ideais e que aspiram ter um Mocambique melhor, com justica social, sem corrupcao e abuso do poder (notavelmente cantores da musica rap), usam a tua imagem nos video clips e a tua voz nas musicas audio, para reivindicar e criticar algumas situacoes e comportamentos politicos que os julgam incorrectos (que por vezes tambem concordo com eles)...
por outro esta', como j'a disse, o grupo de camaradas que esta' neste momento a usar a tua imagem para fortalecer a campanha.
neste cenario, se estivesses vivo saudoso presidente, de que lado estarias? we miss you dad!...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Lambebotismo! Coisas do meu país


Na segunda-feira, 31 de Agosto, o Basílio Muhate inseriu uma mensagem no “Facebook” a incitar as pessoas a votar no partido Frelimo e no seu candidato presidencial, Armando Guebuza, a qual a considerei campanha e chamei o seu autor de lambe bota. Não se contendo, no dia 2 de Setembro, pela mesma via, ele inicia uma conversa comigo, para se esclarecer do meu posicionamento.

Eis a conversa que se desenrolou entre eu e ele, sem nenhuma altercão nem correcção. Acompanhe!

Basilio
Alvo, tudo bem ? Então achas-me um lambebotas pk ando a mobilizar o pessoal pra campanha ?

11:51amAlvo
se mobilizasses as pessoas para irem votar te consideraria um cidadao exemplar, o problema e tentares nos persuadir, ate antes do arranque oficial da campanha!

Basilio
para ti cidadão exemplar é aquele que não tem filiação partidária ?

11:53amAlvo
apenas sou contra militancia e fanatismo politico! cidadaos exemplares fazem escolhas racionais!
e tu mostraste ser fanatico!

Basilio
ohhh...oki agora percebo...és contra a militância. Mas não penses que os militantes ou os fanáticos não são cidadãos exemplares.
espero que não sejas contra pessoas mas sim contra ideologias...tenta exercitar isso poder-te-à ser útil um dia

Alvo
claro que nao sao, porque nunca julgam os factos de forma logica e racional, tendem sempre a ser cegos para satisfazer o seu ego politico!

11:57amBasilio
ok...é uma discussão filosofica que levaria muito tempo. Eu considero-me um cidadão exemplar na minha comunidade, no meu bairro, na familia, na igreja, no meu partido, na minha escola.

11:58amAlvo
o problema e que acredito que nao fazes cada coisa no seu lugar, carregas o partido para igreja, para o bairro e para a escola, se atendesses cada coisa no seu lugar ai sim, te consideraria exemplar!
quero dizer, nao fazes cada coisa no seu lugar!

12:00pmBasilio
tudo bem, se assim pensas é porque deves conhecer-me o suficiente para me avaliar e, Sendo assim, tenho que concordar contigo. não sou um cidadão exemplar.
agora, se não me conheces, seria bom procurares saber mais...antes de qualquer juízo de valor a meu respeito...acredito quen sejas um jovem sensato e bem educado o suficiente para tal.

12:03pmAlvo
nao quero que cocordes ou deixe de concordar, apenas quero que percebas e facas uma avaliacao logica e racional do meu discurso, se te atreveste a comecar a fazer campanha no facebook e porque tu carregas isso contigo para onde vais, razao pela qual afirmo nao fazes cada coisa no seu lugar!

12:05pmBasilio
LÓGICA E RACIONALIDADE são conceitos filosóficos...não gosto de discutir filosofia porque não é objectiva.Para a sua informação meu caro não comeceu a fazer campanha no facebook. Quando eu começar a fazer verás

12:07pmBasilio
Mas prontos, sou um fanático, um mau exemplo à sociedade, um partidário...enfim, falando filosoficamente, o mundo também precisa de loucos nem !!!

12:11pmAlvo
o problema e que eu estou muito preocupado com o estagio actual da sociedade mocambicana, onde tudo depende da vontade politica, isso reflecte o baixo nivel de educacao dos seus cidadaos, para saberem que tem direitos que nao precisam lamber botas para os ver satisfeitos, como ter um bom emprego, uma boa casa, reivindicar sem receios etc....

12:13pmBasilio
mas como é que vc vai resolver isso se vc considera os actores políticos de mau exemplo à sociedade ? Em toda a parte do Mundo a sociedade depende das vontades políticas.

12:14pmAlvo
ERRADO

12:14pmBasilio
Não discuto lambebotismo nem apostolos da desgraça. para mim esses são conceitos de quem não tem capacidade intelectual.

12:15pmAlvo
o que chamarias de capacidade intelectual?

12:15pmBasilio
em que país do mundo a sociedade não depende dos actores ? tens 1 exemplo ?

12:16pmBasilio
veja o conceito de intelectual em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelectual

12:18pmAlvo
wikipedia nao e o meu centro de consulta preferido, nao tenho credibilidade nele! nos paises ocidentais no geral, o interesse dos cidadaos, representados pela sociedade civil, ocupam um lugar importante nas decisoes sobre a vida da sociedade!

12:18pmBasilio
se wikipédia não serve procure as suas fontes sobre o conceito de intelectualidae.
12:20pmBasilio
de-me o exemplo de um país onde a vontade política não tenha peso...deixe de filosofar.

12:22pmAlvo
caro amigo, quando falo de ocidente refiro-me a paises como a Franca, Alemanha, onde algumas decisoes politicas sao abortadas pela sociedade civil quando em nada ajudam o cidadao!

Basilio
risos

amigo Alvo
Você daria um bom filosofo...

12:26pmBasilio
um dia desses convido-te para um café com amigos...bloggers ai falamos sobre mais assuntos...ok !
12:27pmAlvo
obrigado, o tempo esta mesmo apertado! divirta-se.

Basilio
ok...não faz mal...mas use o facebook para fazer amizades, nunca ao contrario...ok ?

Alvo
e o que estou tentando fazer!

12:32pmBasilio is offline.


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A ponte Armando Emilio Guebuza no país dos Mocambicanos!

Nas vésperas da inauguração da ponte sobre o Rio Zambeze, o Conselho de Ministros de Moçambique decidiu aprovar a atribuição do nome do presidente da República, Armando Emílio Guebuza, à nova ponte. Esta decisão levantou muitas discussões e debates no seio dos académicos ao nível nacional.

De seguida está um texto, retirado do blog do sociólogo moçambicano, Carlos Serra, que reflecte parte dessas discussões. Nessa discussão, destaca-se o texo do economista moçambicano, Nuno Castel Branco. Vamos a isso.


Carta a um caro e estimado amigo e camarada sobre a segunda Travessia do Rio Zambeze



Levantou-se um debate polémico em torno do nome da ponte sobre o Zambeze. Nem outra coisa seria de esperar, dados quatro factores: (i) o nome escolhido (o do Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, controverso pelos seus métodos de governação e ligações activas com o mundo de negócios); (ii) o contexto político em que o nome foi escolhido (fim de mandato de uma governação absolutista, com um ambiente de crescente lambe-botismo e carreirismo e crescente culto de personalidade, conjugados com o ciclo eleitoral em que nos encontramos); (iii) a forma como a escolha foi feita (a única, ou uma das raríssimas sessões do Conselho de Ministros não presididas pelo PR neste mandato, em que foram rejeitadas opções claramente mais neutras e unificadoras sem qualquer justificação aceitável; seguida da declaração de irreversibilidade da escolha, a qual, por si só, é um reconhecimento de que existe um problema com a escolha); e (iv) o significado e o simbolismo histórico da travessia do Zambeze (esforço colectivo de gerações de Moçambicanos combatentes libertadores, simbolizando que enquanto o colonialismo tudo fez para impedir a travessia do Zambeze, os Moçambicanos livres e combatentes tudo fizeram para promover a justa e livre travessia desse majestoso Rio). Nas várias mensagens sobre o nome da ponte do Zambeze que já recebi, não há nada que justifique a atribuição do nome de Armando Emílio Guebuza (AEG) à ponte. Há uma cantilena sobre o significado da ponte, outra sobre os feitos recentes do grande timoneiro, mas não existe a mais pequena relação lógica entre as cantilenas e o nome da ponte. Provavelmente, para a maioria das pessoas o que interessa é que haja uma boa e sólida ponte e cada um usará o nome que quiser. No entanto, há algumas considerações que gostaria de fazer usando o debate sobre o nome desta ponte como pretexto. Historicamente, a travessia do Rio Zambeze tem sido fundamental na nossa vida. A travessia do Zambeze pelos guerrilheiros da FRELIMO foi um dos marcos fundamentais na construção da vitória sobre o colonialismo português. Por isso, até temos ruas, praças, escolas, etc., que se chamam "Travessia do Zambeze". Mais uma vez, com a ponte a inaugurar em breve, a travessia do Zambeze será um marco histórico na unificação física do território nacional e na reafirmação e consagração da integridade territorial. Enquanto o colonialismo português tentou, com Cahora Bassa e com o colonato, impedir a travessia do orgulhoso rio Zambeze, a vitória do Povo Moçambicano permitiu a construção de uma ponte para facilitar e promover essa travessia. Essa vitória, construída por milhões de heróis, foi sendo erguida em torno de eventos históricos como a travessia do Zambeze para Sul. Portanto, a ponte sobre o Zambeze tem valor e simbolismo histórico que de longe ultrapassam o nome de qualquer pessoa viva ou morta.
A ponte sobre o Zambeze estava inscrita nas directivas económicas e sociais do III Congresso, foi reafirmada no IV Congresso, planificada e orçamentada no mandato do governo anterior (1999-2004), executada no actual mandato (2005-2009). Portanto, se fosse dado um nome presidencial a essa ponte, acho que ela se deveria chamar "Eduardo Moisés Alberto Guebuza". Portanto, ao contrário do que é afirmado por alguns, o AEG nao é o patrono da ponte. A epopeia da travessia do Zambeze não tem patrono individual - se tem patrono, este é colectivo, somos nós todos e tem sido a nossa luta pela nossa libertação do colonialismo, do fascismo, do apartheid, do racismo, da opressão, da repressão, da indignidade, do lambe-botismo, da "cunha", da miséria; e pelo desenvolvimento com equidade e justiça social e sustentabilidade ambiental e intergeracional. Se existe, o patrono da ponte do Zambeze somos nós todos que lutámos e lutamos por Moçambique. Por outro lado, não é de bom gosto que o Presidente vivo e em exercício ande a pôr o seu nome, ou a permitir que outros o façam, em obras nacionais desta envergadura. O seu nome ficará ligado à ponte pois uma placa recordará as gerações vindouras de quem a inaugurou. Mas cai mal, fica mal, sabe mal e cheira mal atribuir o seu próprio nome à ponte. Politicamente, ele perde mais com isto do que ganha. A internet, os celulares, a imprensa, andam agora a gozar com isto. O gozo chega ao ponto de hoje qualquer coisa (desde o novo caixote de lixo imaginário produzido por uma metalo mecanica nacional até a ultima tenda hipotética de pipocas aberta em Tete) ser chamada AEG. Ate já há quem proponha chamar AEG a tudo e todos - todas as ruas, praças, escolas, centros de saúde, edifícios públicos, buracos nas estradas, capim nos jardins e pessoas. Assim já não haveria confusão nem discussão. Todo o Pais se chamaria AEG, seguindo o muito bom exemplo de regimes como o de Mobutu, onde cada Zairota já nascia membro do então chamado movimento revolucionário do Zaire. A dita Africanização do Zaire serviu para legitimar o culto da personalidade e o absolutismo do poder de um regime ilegítimo que se dizia anti-imperialista e nacionalista mas que era, na prática, fiel parceiro e servidor das multinacionais que dominaram aquele território e povo.
Não penso que seja responsável e digno desgastar a imagem e a dignidade de um símbolo e de um órgão nacional. O PR é um símbolo e um órgão da República, e nesta a soberania é dos cidadãos. O PR não e uma pessoa qualquer que pode usar o seu nome, ou deixar que o usem, a torto e a direito. A tarefa do PR não é tentar, a todo o custo, ficar registado na história. O PR não é propriedade privada nem pessoal. É UM SÍMBOLO E UM ORGÃO DA REPÚBLICA. Como cidadãos desta República, será que nos sentimos bem quando o PR vivo e em exercício põe, ou quer por, ou permite que ponham, o seu nome em tudo, incluindo numa dita square (praça) situada no coração da "lavandaria" nacional de dinheiro sujo e, ao mesmo tempo, na ponte que traz consigo o significado e o simbolismo da epopeia da Travessia do Zambeze? Sentimos orgulho nisto? Sentimo-nos libertados, dignificados e com mais auto-estima com isto?
Provavelmente, alguns de nós estão satisfeitíssimos; mas também é bem provável que muitos outros não estejam. Será que gostaríamos mesmo de ver AEG em todo o lado? Será que não nos preocupa saber que quando um cidadão assume funções de órgão da República tem o poder e a oportunidade para se esquecer dos princípios Republicanos, pessoalizar o poder, as obras e os símbolos da soberania dos cidadãos da República, e que depende dele, não dos outros órgãos democráticos da República, se tal cidadão usa (ou permite que outros usem) o poder que lhe é conferido pela República para benefício pessoal, sejam eles eleitoralista, de ego pessoal ou quaisquer outros? Será que sentimos orgulho e auto-estima quando o Conselho de Ministros se reúne para dar o nome do seu chefe em exercício a uma ponte, em vésperas de fim de mandato e do início de uma fase crítica do ciclo eleitoral, dando a entender que os membros do CM encontraram uma forma colectiva de tentar garantir os seus postos no próximo mandato (uma espécie de acordo colectivo de trabalho)? Será que usar as obras públicas para fim eleitoralistas ou de culto de personalidade nos alegra e satisfaz? É por isto que gerações e gerações de Moçambicanos lutaram e lutam? É por isto que continuamos a lutar hoje? Para não existirmos a não ser que o PR nos reconheça, para sermos apóstolos da desgraça a não ser que as nossas obras levem o nome do PR, a sermos alvos a abater ("...a destruir como o colonialismo foi destruído...", como diz uma das cartas que recebi) por ousarmos não concordar, por ousarmos criticar e pensar diferente? Algumas das nossas tradições e crenças tornaram-nos confortáveis com, e dependentes da, omnipresença, omnisciência e omnipotência de algum ser divino. Em face da dúvida suscitada por nunca nenhum ser divino nos ter aparecido, apesar da sua omnipresença, acabamos atribuindo essas características a pessoas como nós, neste caso o PR da ocasião, seja ele quem for. Na última conferência de quadros do Partido Frelimo da era AEG, já se falava de omnipotência, omnisciência e omnipresença. Estes conceitos fazem parte da cultura da submissão ao divino e ao poder e do pragmatismo dos lambe-botas, mas são totalmente opostos à cultura da cidadania Republicana, democrática e socialista (em que o Partido Frelimo se diz inspirar). Será que isto não nos preocupa?
Nós vivemos numa República, e a República e os seus cidadãos não se submetem a nada, a não ser às suas próprias leis e regras, produto da sua experiência e conflito histórico, social e político. Os cidadãos são os soberanos da República. Aliás, um Partido que diz identificar-se com o socialismo democrático deve saber que em democracia socialista a soberania é dos cidadãos trabalhadores da República socialista democrática, e não do patrão (no socialismo democrático republicano, o tal patrão nem deve existir). Além disso, a omnipresença, a omnisciência e a omnipotência sabem mal, cheiram mal e soam mal. Sabem, cheiram e soam a Gestapo, a PIDE, a BOSS/NIS, a Mobutu, a fascismo, a repressão, a opressão, a humilhação. O "patronismo" disto e daquilo assemelha-se à reclamação da paternidade da democracia que um pobre idiota nosso compatriota, e seu porta-voz, continuam a fazer.
Ao contrário do proclamado por muitos, à direita e à esquerda, não há "fim da história" - só no fim do espaço/tempo, e isso levará vários biliões de anos a acontecer para o Universo corrente; pouco mais que um par de biliões de anos para o nosso sistema solar; e talvez alguns milhares de anos, se tivermos mais juízo do que até aqui, para a Humanidade terrestre. Nesse tempo, muita água passará em baixo da ponte e não me admiraria que ela, a ponte, mudasse de nome, particularmente se o seu nome original for AEG. Imaginemos a indignidade e vergonha causadas por uma resolução de um futuro Parlamento nacional, daqui a alguns anos, a alterar os nomes de obras nacionais para resgatar o seu real significado histórico e Republicano! Imaginemos a imprensa, nessa altura, a entrevistar o Felício Zacarias, já velhinho, e este a dizer a qualquer coisa do género "fomos obrigados a dar o nome, no contexto pensávamos assim, eu estava contra mas cumpri orientações, o novo nome resgata o nosso sentimento real da época mas naquela altura não nos podíamos opor; quando disse "irreversível" falava do sentido legal na época e não do sentido da dinâmica histórica", e outras coisas que tais. Imaginemos!
Fechemos os olhos, por um momento esqueçamos os deveres partidários de esfregar o poder nestas alturas críticas do ciclo político, e imaginemos daqui a alguns anos alguém a pensar para a sua máquina quântica pensante - que terá substituído os computadores tal como os conhecemos hoje - uma carta em que se lê: "...amo-te, ó histórica travessia do Zambeze que deste nome à ponte que nos uniu fisicamente", (em vez do actual "...nós te amamos Armando Emílio Guebuza ponte", que recebi numa carta, em que ambiguamente se usa a ponte para esconder a esfregadela ao divino AEG, ou se reforça a divindade do AEG atribuindo-lhe, também, a capacidade de ser ponte). "...amo-te, ó histórica epopeia libertadora geradora de heróis combatentes, indomáveis, insubmissos como tu, ó poderoso Zambeze que és livre como o pensamento soberano dos Homens que te atravessaram lutando pela liberdade; heróis, uns lembrados outros outrora esquecidos, como Cândido Jeremias Mondlane, mas hoje resgatados, que proporcionaram a primeira de muitas travessias libertadoras do teu leito, heróis que enfrentaram a tua força e nela se inspiraram e inspiram para gerarem o seu espírito indomável e insubmisso que, como tu, ó majestoso Zambeze que continuamente se renova, simboliza o que são os cidadãos da República socialista democrática de Moçambique..." (desculpem a minha total e completa ausência de veia poética, mas nunca tentei ter uma). Imaginem a ansiedade com que aguardo ouvir o que os vira-casacas de amanhã (lambe-botas de hoje) vão dizer para se justificarem. Ou como anseio o momento em que o Felício Zacarias vai finalmente aprender que nada neste mundo é irreversível (para além do tempo no espaço sobre o qual nem o AEG nem o CM - aliás, nem Einstein - têm controlo), nem mesmo a decisão de atribuir o nome do grande timoneiro à ponte do orgulhoso e majestoso Rio. E nessa altura, o cidadão AEG não estará aqui para esclarecer para todos nós ouvirmos bem que um grupo de puxa-sacos usou o seu nome em vão, e que ele nunca lhes disse para o fazerem. Para cortar curta uma história que já vai longa, chamar ponte AEG à do Zambeze cheira mal, soa mal, sabe mal, cai mal e parece mal. Parece, cheira, soa e sabe a culto de personalidade de baixa qualidade, e este cheira, sabe e soa a fascismo, a absolutismo monárquico, a violação grosseira e de mau gosto dos princípios Republicanos, da cidadania Republicana e do socialismo democrático; e cai como mais uma de muitas nódoas no pano já muito sujo que reflecte a imaginação "democrática" dos lambe-botas do nosso actual regime político. Fica mal usar o nome do PR, símbolo da soberania dos cidadãos da República, a torto e a direito, e em vão (e, mais provavelmente, sem a sua autorização) para dar nomes a pontes sobre rios majestosos, indomáveis e cheios de história como o Zambeze (além de ser também nome de uma square qualquer de um complexo comercial de origem duvidosa). Como dizia Nicolai Bukharine, então membro do Comité Central do Partido Comunista da Rússia, quando Estaline propôs um mausoléu para o corpo de Lenine e se visualiza a atribuição dos nomes Estalinegrado e Leninegrado a duas grandes cidades, "...um cheiro nauseabundo começa a penetrar no Comité Central do Partido:" Poucos anos depois, a grande purga Estalinista levou ao assassinato de milhões de comunistas militantes de causa justa e não carreirista (incluindo Bukharine) e de muitos outros cidadãos honestos, inovadores, trabalhadores que ousaram opor-se ao culto de divindade e às políticas repressivas do querido dirigente, que acreditaram que a República, principalmente a República socialista, deveria ser profundamente democrática e em total ruptura com o poder absolutista do Czar e de Estaline e dos seus aparelhos de propaganda e repressão. Os assassinatos em massa não pararam a história, nem o pensamento, o vento e a acção. Estaline e o seu tipo de regime estão hoje no seu devido local de repouso - o caixote de lixo da história. Não direi eternamente, porque a história não tem fim. Felizmente, não há machado que corte a raiz ao pensamento porque este é livre como o vento. Aliás, os combatentes da liberdade em Moçambique sabem muito bem que não se corta a raiz ao pensamento, que, como dizia Samora, não se para o vento com as mãos. O fascismo colonial e racista não travou o pensamento libertador; atiçou-o. É esse o sentido do belo poema de Armando Guebuza em que ele diz que as suas dores mais as nossas dores vão acabar com a opressão e conquistar a liberdade. Por mais nauseabundo que o cheiro possa ser num certo momento, o vento da história se encarregará de limpar o ar. E o vento da história é o produto de todos nós, inspirados, entre outros, pelos obreiros da primeira e das muitas outras Travessias do Zambeze. Nelson Mandela é uma pessoa cuja dignidade é, por enquanto, inquestionavelmente exemplar para todos nós. Particularmente, há dois momentos e processos, entre muitos outros, que marcam profundamente a forma como muitos para ele olham com admiração e respeito. Um, foi uma declaração que ele próprio fez, há muitos anos, pouco depois da sua libertação, em que disse que não era nenhum messias, mas apenas um combatente da liberdade, convicto e determinado, como tantos outros milhões de sul-africanos que ousaram lutar e ousaram vencer o apartheid. Outro, foi a sua extraordinária magnanimidade na vitória, contribuindo para criar um mundo em que a justeza da luta resulta em que todos ganham com a Vitória dos ideais justos dessa luta, mesmo os que tenham lutado contra esses ideais. Faz lembrar as palavras de Samora, que dizia que a nossa luta nos libertou a nós e aos próprios colonos e aos colonialistas. Ou as proféticas palavras de Jorge Rebelo, que dizem que não basta que a nossa luta seja justa, é necessário que a justiça viva dentro de nós. Como seria magnífico se no acto da inauguração da ponte o PR (símbolo e órgão da nossa República) fizesse justiça a todos os Moçambicanos que, lutando por Moçambique, contribuíram para a construção da ponte do Zambeze! Como seria glorioso, para AEG como cidadão político, que no acto da inauguração da ponte usasse a sua tendência para a omnisciência e omnipotência para declarar, alto e para todos nós ouvirmos bem, para todo o Mundo ouvir bem, que em nome dos cidadãos livres e soberanos da nossa República inspirada na epopeia libertadora e heróica de ontem e de hoje, a ponte ora inaugurada passaria a chamar-se "Ponte da Travessia do Zambeze" (ou ponte do Zambeze, ou ponte da Unidade Nacional). Aí estaria a ser reforçada a dignidade do PR como órgão da República e a magnanimidade do AEG como político de dimensão nacional e internacional. Aí, a intervenção do PR, AEG, estaria a unir todos nós na mesma vitória e no mesmo simbolismo histórico da segunda travessia do Zambeze. Aí, o PR, o político AEG, estaria a inaugurar uma ponte entre o passado glorioso e o futuro que se quer brilhante, mas também a indicar claramente que o nosso País é uma República em que o poder e a soberania pertencem aos cidadãos e não podem nunca ser pessoalizados ou usurpados para fins pessoais ou outros contrários aos princípios Republicanos democráticos. Aí estaria a ficar clara a isenção do PR em relação aos lambe-botismo dos que usam e abusam do seu nome e, por inerência, de um órgão da República, em vão. Aí, o lambe-botismo estaria a ser postos no seu lugar, o caixote do lixo da história. Mas, claro, estou imaginando que o PR gostaria, ele próprio, de fazer ou manifestar algo do género. Mas não estou totalmente seguro que esse seja o seu desejo. Que a historia a todos nos absolva. A Luta Continua, em prol dos princípios inalienáveis da República socialista democrática. Teu amigo e camarada, Carlos Nuno PS: Amigo e camarada, não me respondas evocando tradições Africanas que requerem um chefe omnipotente e omnipresente. Essas ditas tradições são criadas e instrumentalizadas para legitimar o ilegítimo, e já cheiram nauseabundamente mal. Foi esse tipo de tradições absolutistas e reaccionárias que abriu as portas para a nossa colonização. Também não me respondas dizendo que afinal é só um nome - se isso fosse verdade, então estaríamos a desafiar ainda mais do que imagino a dignidade do PR. Não me digas que outros Presidentes fizeram a mesma coisa - se a tarefa do actual é apenas repetir o que outros fizeram, então por que não deixar os outros lá em vez de eleger um novo? O que é que o novo traz de inovador ao País? Não me acuses de não ter intelectualizado suficiente a questão do ponto de vista de filosofia política. Nem sequer o quis fazer. Só quis mostrar dois pontos: se a ponte do Zambeze tem por trás de si o simbolismo histórico da epopeia libertadora da Travessia do Zambeze pelos guerrilheiros da FRELIMO, epopeia esta que não pode nem deve ser pessoalizada em ninguém, vivo ou morto, por ser uma epopeia colectiva de todo um Povo; por outro lado, o culto da personalidade tem por trás de si o absolutismo e à sua frente a tirania e oportunismo. Não me digas que não tenho legitimidade para me exprimir sobre estas questões como o fiz. Claro que tenho, pois sou cidadão livre e soberano desta República. Qualquer outra característica - etnia ou região de origem, tamanho dos olhos ou do nariz, cor da pele, forma de expressão, posição social ou cultural, altura ou largura, posição na hierarquia das listas oficiais de cidadãos - é completamente irrelevante quando comparada com a minha característica de cidadão livre e soberano desta República. Finalmente, de nada te vale acusares-me de ser da oposição (como hoje é moda). Primeiro, há uma diferença substancial entre "ser da oposição" e "estar na oposição". Segundo, nas condições actuais nem é preciso mudar de Partido para estar na oposição. Terceiro, estar na oposição ao culto da personalidade e ao absolutismo e oportunismo a ele associados, e ser a favor da República socialista democrática são, para mim, motivos de enorme orgulho e auto-estima, e geradores de enorme e inesgotável energia. Quarto, ainda que eu fosse "da oposição", não seria esse um direito inalienável que teria como qualquer cidadão, garantido pela Constituição e protegido pelo PR? Um abraço. Carlos Nuno Castel-Branco
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É ASSIM QUE NÓS OS MOÇAMBICANOS PERDEMOS TEMPO! Ambrósio- Eu estava convencido que nesta altura já muito derradeira do processo conducente à inauguração da ponte sobre o Rio Zambeze que todo o nosso povo estaria preocupado em saber como rendibilizar aquela ponte; como desenvolver mais o país com base naquela ponte; como aproveitar as sinergias colaterais (as externalidades positivas) que serão trazidas pela ponte; como fazer com que as culturas outrora apodrecidas nos campos, porque os camiões para levá-los para os mercados viam o seu esforço defraudado por falta de uma ponte; como desenvolver o turismo nacional e internacional ao longo da estrada nacional número, tendo em atenção que já não haverá pressa de se chegar ao batelão de Caia para sofrer o menos tempo possível na bicha de travessia, e etc, etc,. Mas o que eu vejo, com tamanha tristeza, afinal é a promoção de uma discussão estéril, de efeitos práticos nulos e de resultados políticos, apenas e talvez, divisionistas. Vamos pensar de forma positiva. Vamos ganhar dinheiro e desenvolver o país por causa daquela ponte. Samora Moisés Machel ensinou-nos a sermos práticos na vida de tal modo que até a G3 nas nossas mãos serve para libertar o povo, querendo com esta metáfora ele dizer que temos que olhar para o que essencialmente uma ferramenta poderá fazer em nosso benefício, não importando o seu aspecto secundário, que é o seu nome. A prática dirá qual será o nome que o povo, de facto, dará àquela ponte que, de jure, será baptizada com o nome de Sua Excelência o Presidente da nossa República. Que se não enverede mais por este desperdício de tempo num país aonde o mais importante é o trabalho e esta ponte é uma ferramenta posta à nossa disposição para aumentarmos a nossa produção e produtividade nacionais a custos mais baixos que os actuais no exercício ou processo do trabalho. Vamos fazer uma cruzada de luta contra esta nossa forma doentia de não querer ver longe porque elegemos o secundário como sendo o mais importante. Eu ficaria muito preocupado se aquela ponte fosse baptizada com um nome de outra pessoa que não tivesse prestado serviços relevantes ao desenvolvimento da nossa Pátria. E não é o caso porque Guebuza desde a sua infância no Xipamanine e no Chamanculo que se preocupou com o desenvolvimento de Moçambique. Mas mesmo assim não ficaria nesta teimosia "asinina" amarrado e agarrado ao nome atribuído pelo Colégio do Conselho de Ministros àquela ponte. Com este tipo de postura que estamos assumir e enquanto gastamos ou perdemos o nosso tempo nesta lenga-lenga inócua discutindo o nome da ponte, esquecemo-nos que estamos num contexto internacional globalizado (SADC, UA, UE, etc) e depois queixar-nos-emos se começarmos a ver zimbabweanos, sul-africanos, malawianos, nigerianos, portugueses, etc investindo e tirando partido das externalidades positivas potencialmente oferecidas por esta ponte Armando Emílio Guebuza. Não fiquemos ofuscados com o nome da ponte a tal ponto de perdermos a perspectiva que aquela ponte situada em território e solo Moçambique pertence à região austral de África, pertence ao continente africano, pertence ao mundo. Ela é uma ponte internacional ao serviço do desenvolvimento da Humanidade. E o mundo já deve estar a estudar como ficar rico com aquela ponte que nós os seus donos nominais, formais ou territoriais ainda não sabemos como explorá-la com inteligência e racionalidade económica maximizada. E nessa altura já será tarde porque há uma lei da física, e que no negócio também acontece, que diz o seguinte: dois corpos não podem simultaneamente ocupar o mesmo espaço físico, porque um exclui irremediavelmente o outro. E nós os moçambicanos, intelectuais apenas do verbo, arriscamo-nos a ficar fora da caravana. Obrigado.
António Nametil Mogovolas de Muatua

Caro amigo Nametil, Obrigado pela tua sinceridade. Sabes por que e que insisti tanto, e repeti tanto a questão da República e do socialismo democrático na minha carta anterior? Era precisamente porque já imaginava este dualismo da democracia urbana (minoritária) versus a ditadura rural. Achas mesmo que nas zonas rurais as pessoas querem ser mandadas e oprimidas? E por isso que o AEG passa o tempo nas zonas rurais em presidências abertas - gosta de se sentir como regulo, será? Já agora, por que é que não seguem o projecto do tolinho idiota, "pai da democracia". Em toda a sua loucura, ele até parece ter acertado numa coisa: o AEG quer ser imperador de Moçambique. De facto, o melhor era proclamarem-no Rei absoluto, entronizarem-no, acabarem com o Parlamento, com todos os Partidos e outras coisa do género que custam dinheiro mas são inúteis. Morra a República e viva o Grande Regulado! No fim, o idiota da democracia bastarda e o Grande Rei assemelham-se: ambos só pensam no seu ego e poder pessoal, ambos proclamam a legitimidade do seu ego e poder pessoal, ambos querem ser imperadores. Como sempre, não eles que querem, é o Povo que lhes pede que sejam imperadores. Mas não te esqueças de uma coisa, pode ser que a minoria urbanizada decida que está farta disto; e pode ser que a nem toda a maioria rural esteja contente com o Grande Regulado. Sobretudo, lembra-te da nossa própria história. Foram as ambições das classes dominantes dos Grandes Regulados que outrora abriram as portas para a dominação colonial e hoje as abrem para o neo-colonialismo. E tudo em nome da legitimidade Africana construída em redor da dominação de uma clique louca pelo poder e dinheiro sobre uma maioria que essa clique pensa ser ignorante. No fundo, acho mesmo que a Frelimo precisa, desesperadamente, de perder as eleições e o poder. Nessa altura, as pessoas vão ser obrigadas e definirem-se e a pensarem. Talvez, então, a República viva de novo. Como é óbvio, o nome da ponte parece ser fundamental, pois reflecte filosofias de vida e de estar na vida e no Estado. Filosofias de civilização e de cultura de Estado e de cidadania. Então, tinham razão os que questionaram o nome da ponte. Que a história a todos nos absolva. A Luta Continua pela República socialista democrática e contra todos os grandes timoneiros, pretensos reis e imperadores e todos os grandes regulados. Teu amigo, Carlos Nuno PS: Sabes que a taxa de urbanização descontrolada em Moçambique é uma das mais altas do Mundo? Diz lá ao candidato a Grande Rei que se apresse a entronizar-se, pois não terá muitos mais anos de maioria rural e minoria urbana. Daqui a nada, pela lógica do vosso dualismo, a maioria urbana exigirá a República de volta. _________________________________________________
Castel - Como sempre o faço quando são textos da tua lavra, lí esta tua reflexão com muito interesse e atenção. No mesmo levantas questões pontuais muito sérias e que, remotamente, podem pôr em perigo a nossa democracia da zona urbanizada do nosso país, aonde vive a minoria dos 20 milhões de habitantes que nós somos. Mas em meu modesto entender, julgo que o está subjacente na mente dos que querem baptizar aquela ponte , autêntica obra de arte, com o nome do AEG é a vontade de motivar o povo em redor de um dos símbolos da trindade do nosso poder. Julgam, penso eu, os proponentes que dando o nome do AEG àquela ponte que cimentam muito mais a coesão e união de todos os moçambicanos em redor deste símbolo nacional. Estou convencido que aquele povo das zonas rurais (e é a maioria dos 20 milhões de habitantes deste país) fica ainda mais motivado e feliz quando vê o nome do seu "régulo" associado a estas coisas também grandes. Esta questão do nome do AEG - pressinto - é capaz de estar a incomodar mais aos citadinos, a nós os urbanizados e os mais letrados do que à maioria do povo. Esta maioria - que precisa de ser educada em várias vertentes - um dia verá se esta decisão é correcta ou não. O que agora essa maioria quer é mais comodities que ajudem a aliviá-la da fome, miséria, doença, ignorância, etc. Mas para que isto suceda, Moçambique precisa de ter uma liderança forte. E esta de darem à ponte o nome do AEG é capaz de ser uma tentativa de aumentar ainda mais o carisma do chefe e, consequentemente, a sua liderança tão necessária para pôr o barco da economia nacional em adiantamento e mais depressa. Mas no fundo o mais importante - o nome que se lhe deu para mim não é tão relevante - é que esta Ponte seja, de facto, mais uma ferramenta ao serviço do desenvolvimento do país para que o sonho do Povo, de Mondlane, de Machel, de Chissano e também do Guebuza, se materialize depressa e de modo irreversível. Gostei do teu texto. Parabéns.
António Nametil Mogovolas de Muatua
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quinta-feira, 18 de junho de 2009

As ‘manias’ dos nossos jornalistas!

A ‘purificação’ da classe jornalística moçambicana sempre constituiu preocupação minha, não apenas por esta ser a minha área de formação, como também pelo valor e responsabilidades que julgo ter um jornalista perante a sociedade.

Na minha concepção, e de muitos pensadores da área de comunicação, só com bom jornalismo é que se pode ter cidadãos cultos e interventivos. Portanto, o jornalista não deve contribuir para fazer valer os interesses das grandes companhias e dos políticos. Ele não deve contribuir para a formação de massas, deve sim, empenhar-se na formação de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, capazes de intervir e participar na vida política e social do país .

Se tivermos uma classe jornalística deficiente, certamente que teremos uma massa amorfa e inútil, no lugar de cidadãos. A reflexão que segue, foi por mim escrita e publicada no espaço de opinião do jornal Notícias do dia 23 de Maio do presente ano, momento em que, por sinal, anda meio desligado deste blog, porque me encontrava a trabalhar para um jornal electrónico. Mas devo aproveitar esta oportunidade para informar que, a partir do dia 09 de Junho já desliguei-me do tal, porque decidi dedicar maior parte do meu tempo meditando.
Vamos ao escrito.

Dignifiquemos a classe jornalística

Alvo Ofumane

Há quase quatro anos que estudo jornalismo e há um ano e sete dias que trabalho como jornalista, mas confesso sentir muita falta do contacto exterior, porque muito cedo me foi incumbida a tarefa de editor do órgão de informação onde trabalho, o que não me permite fazer saídas constantes para a cobertura de assuntos, razão também que faz com que tenha presenciado muito poucas estórias que ocorrem no seio da nossa classe jornalística. No entanto, no dia 20 de Maio do ano em curso fui fazer cobertura duma conferência de imprensa na Direcção Geral das Alfândegas, na qual o Director Geral, o Sr. Domingos Tivane deu o rescaldo da reunião da Organização Mundial das Alfândegas (OMA) para a região da África Austral e Oriental, que teve lugar entre os dias 14 e 15 de Maio no Zimbabwe, assim como fazer o balanço dos dois mandatos de Moçambique enquanto vice-presidente da OMA para a região.

O evento decorreu normalmente. Finda a conferência, eis que para o meu espanto, depois de se ter providenciado uma água (em garrafas de 500ml – 0.5L), como aliás acontece em todas as casas organizadas e hospitaleiras. Todos tomaram uma garrafa, um dos meus colegas de profissão, que desconheço o nome, e mesmo se o conhecesse não o diria, nem o do seu órgão, ao invés de tomar uma garrafa de água, o que julgo ser suficiente para matar a sede, enquanto sorria para o servente disse “deixa-me levar duas” e assim o fez. Senti-me mal, mais ainda porque estava próximo dele.

Na sociedade moçambicana, um jornalista tem sido conotado com um indivíduo faminto e “biscateiro”, e eu sempre questionava o porquê desta falta de consideração, achando de injusta esta atitude de muitos dirigentes, empresários e da sociedade no geral.

O jornalista é um elemento preponderante para uma sociedade. É ele quem traz o mundo às pessoas; é ele quem alimenta as conversas do dia-a-dia, nos cafés, nos bares, nas escolas, nos postos de trabalho, enfim, é ele quem dita a agenda das pessoas; é ele quem dita as formas de pensar e de agir das pessoas, e é ele quem define o que as pessoas devem pensar e de como devem pensar. Imaginemos um dia de greve de jornalistas em qualquer parte do mundo, o que seria desse país? O jornalista é importante sim.

Porém, após a atitude do meu colega na conferência de imprensa, em parte dou razão àquela concepção de jornalista como um indivíduo faminto, pois, pressuponho que não são raras as situações de género que acontecem. Jornalistas que vão cobrir eventos só para usufruir do cocktail e, como sempre, comem descontroladamente, além de que o jornalista ensinou à sociedade que “jornalista é aquele indivíduo sempre mal apresentado”, virando objecto de conversa dos dirigentes, que se aproveitam da sua fraqueza para manipulá-lo e promover a sua imagem a custo de cocktails, ‘gorjetinhas’, palmadinhas nas costas e almoços, se não a custo zero.

Por favor meus companheiros, tenhamos atitude, honra e orgulho, e não nos deixemos comprar nem vender a nossa dignidade e honra e manchar a imagem da classe por um simples cocktail. Devemos construir uma classe jornalística respeitada e que mereça um tratamento e consideração exemplar, e, neste caso, a responsabilidade e dever é tudo nosso.

Muitas vezes levanta-se a questão dos baixos salários dos jornalistas. É uma questão a se ter em conta pois, as nossas empresas jornalísticas também não ajudam nesse sentido, trabalham com recrutas sem nenhuma noção de jornalismo para não pagar bons salários e demais regalias, isto para não falar da falta de contractos de trabalho nos nossos órgãos de comunicação, trabalha-se mesmo em “regime de biscato”.

No entanto, apesar de todas estas dificuldades, não é motivo para se vender a honra.
Bem-haja jornalistas exemplares, com postura profissional apurada, e que mereçam respeito de toda a sociedade. Muito obrigado.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Congo Brazzaville: Crianças sem futuro

Há dezenas de crianças que não se lembram exactamente de quando e como partiram da grande cidade capital para outra, concretamente, para Pointe-Noire. Agora, quando ela não está a vender alimentos na rua, ela vare a casa, lava roupa, loiça e cuida das crianças, de quem não sabe explicar.

Lucie, de 16 anos, natural de cidade congolesa de Berlin, gasta o seu dia vendendo produtos ao longo do passeio do mercado em Poto-Poto, um distrito da capital, Brazzaville, onde moram muitos afrricanos do leste.

“Meus pais me entregaram para uma tia há um ano atrás. Durante o dia estou aqui no mercado, nas noites vendo bolo na estrada principal. Quando reclamo de tanto estar na estrada, sou acusada de ser preguiçosa e estúpida. As vezes eles me batem. Já notei que não sou como uma criança naquela casa, sou uma escrava”, declarou a Lucie à agência de informação IRIN.

Muitas crianças são compradas no Congo ainda muito novas. Nove ou dez anos, por vezes mais novas que isso. Algumas são analfabetas, muito poucas terminaram o ensino primário. Elas terminam como prostitutas ou como empregadas domésticas. A agressão física ou psicológica é frequente.

Um relatório da UNICEF e do governo congolês apresentado em 2007, estimou que 200.000 crianças na África Central e do leste são afectadas pelo tráfico de crianças todos os anos.
De acordo com o relatório, pelo menos 90% das cerca de 2.000 famílias benienses no Congo exploram mão-deobra infantil. No Congo, Pointe-Noire e Brazzaville são as cidades com maiores números de mão-de-obra infantil.

O relatório alistou os países de origem das crianças que neste momento se encontram em Pointe-Noire. Benin, Malí, Senegal, Togo e Camarões constam da lista, enquanto em Brazzavile, a maioria das vêm doutras regiões da República Democrática do Congo.

O relatório diz que crianças congolesas também estavam afectadas, especialmente as orfãs ou as que ficaram sós devido a Guerra civil. Algumas destas crianças foram entregues pelos seus pais, mais notável em Pool, uma das regiões mais afectadas pelos conflitos.

"Sejam as vítimas transnacionais ou tráfico interno, as crianças exploradas, que vivem em condições difíceis, são na maior parte das vezes compensadas pelo salários que é magro dadas em troca de longas e duras horas de trabalho” disse o relatório notando que as horas de trabalho típica destas crianças começa às quarto horas da manhã.

Além de sublinhar a importância da redução dos níveis regionais de pobreza, o relatório fez muitas recomendações para a redução do tráfego de crianças, incluindo reforçar a organização e aumentando as penalidades judiciais para os traficantes.

"Mobilizar a sociedade civil também é um papel preventivo…a combinação destes factores é essencial para atingir o objectivo primário de todos os governantes: reintegrando as crianças enquanto se mantem os seus interesses como prioridade”. Diz o relatório.

A justiça da igreja católica e a comissão de paz já mostrou alguma luz do problema em 2004, quando publicou um relatório initulado escravidão de criança, crianças trabalhadoras, que notaram a falta de medição judicial, especialmente desenhado para proteger as crianças de tal abuso.

"Depois deste relatório fizemos um apelo para às autoridades de Pointe Noire. Isto nos levou a criação de uma organização para monitorar crianças vulneráveis, apesar de ainda não estar operacional” Serge Moutou da Comissão de paz e Justiça disse a IRIN.

"Entretanto, nós estamos a tentar, com a ajuda da UNICEF, para mais tarde aumentar a consciência entre a comunidade alvo, que são os Tongoleses e os Beninenses” ele acrescentou.
"Nós damos boas vindas ao acto de estas comunidades, especialmente os líderes religiosos e outros oficiais das escolas Koranicas, nós lhes encarregamos para fazer um ceminário no assunto dado no dia 25. Eles prometeram organizar encontros com a comunidade, grupos focais e fazer vizitas nas famílias para sensibilizar os membros da comunidade” disse Moutou.
“Nós iremos para o aeroporto de Pointe Noire e interceptar crianças vindas de Benin. Nós também queremos que o ramo de Brazzavile esteja activo.disse Vincent Pareiso.

Na capital, existem dois principais pontos de entrada: o aeroporto internacional de Maya-Maya e a praia de Brazavile de onde barcos vindos da DRC chegam. Polícias fronteriços estima que 80 crianças atravessam o rio todos os dias.

Desde 2006, a polícia lidou com quase 100 casos e ajudou a repatriar cerca de 50 crianças, com ajuda da UNICEF, o ministério dos assuntos socias e o consulado de Benin.
As crianças são dadas a possibilidade de voltar para os seus países de origem, serem levados a uma família local ou casas especias na posse das irmãs salesianas.
"Em Pointe Noire,nós trabalhamos as paredes da cidade para aumentar a consciência no assunto.Trabalhando com o governo local, a soviedade civil nós ajudamos a repatriar as crianças para os seus países de origem” explicou Thérèse Engambé, o chefe do escritório da UNICEF na cidade.

“ Nos nossos esforços para lutar contra esta forma de criminalidade, nós criamos relações entre os países de onde estas crianças vêm e os locais de chegada” acrescentou ela.
"No futuro nós planejamos educar os policias e juristas a cerca do tráfeco de crianças e para facilitar a processo dos réus de acordo com a legislação em vigor em cada país.” Disse ela
O rascunho da legislação na protecção da criança que inclui a medição para criminalizar o tráfeco actualmente antes da assembleia nacional.

Por Alvo Ofumane

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

a nossa palhaçada



Em muitos países da África e do mundo fala-se que fala-se sobre a necessidade de dar espaço à participação dos jovens na vida social e política do país através das suas ideias que se julga serem inovadoras. Essa necessidade recai principalmente aos jovens estudantes que se julga possuírem alta capacidade de observação, análise e avaliação dos factos que no dia-a-dia ocorrem na sociedade.

Isto verifica-se também em Moçambique onde, desde a independência tem-se incentivado a participação da juventude na vida social e política do país através de ideias inovadoras, o que continua até aos nossos dias. Desde 2005, altura da tomada de posse dum novo governo, com Armando Guebuza como presidente, vem-se enaltecendo esta necessidade e, a par disso, incentiva-se aos jovens recém-graduados para trabalhar nos distritos(considerado pólo de desenvolvimento).

Porém, muitos são os casos que comprovam a desvalorização e marginalização dos ideais dos jovens formados e formandos por parte dos dirigentes(políticos), relegando-os para o segundo plano.

O presente artigo é a propósito dum facto que se vem registando desde 2005. Trata-se da introdução dum programa de concurso de descoberta de novos talentos na área musical, promovido por um canal televisivo de Moçambique com os seus parceiros, denominado FAMA SHOW. Este programa arrasta milhares de moçambicanos que, directa ou indirectamente participam do concurso, desde os que o vêm em directo nos locais da sua realização, outros em casa através da televisão, até aos que, por afecto moral ou por uma relação parentesca, votam nos participantes.

Destes participantes fazem parte diversas camadas da sociedade. Figuras públicas e políticas aproveitam igualmente esta ocasião para divulgar a sua imagem através de visitas aos participantes e/ou investimentos para apostar num certo candidato, falo concretamente de deputados, dirigentes políticos, empresários, dirigentes de instituições públicas e privadas, etc, etc...

Na última edição deste concurso, a vencedora foi uma participante da província de Inhambane e, como se sabe, para se sagrar vencedora, ela contou com o apoio de quase todos residentes da província, incluindo os presidentes dos municípios de Inhambane e Maxixe, segundo afirmaram ao público numa entrevista concedida na última gala deste concurso. No seu regresso à província, a vencedora foi recebida com pompa, numa cerimónia organizada pelos municípios acima mencionados.

Mas não é isto que me preocupa neste momento. No dia 29 de Janeiro de 2008, numa bela manhã, ia eu à máquina da ATM do Barclays quando de repente, no espaço aberto do Hotel Inhambane, vejo a vencedora do FAMA SHOW edição 2007 na companhia do presidente do município de Inhambane, tomando uns sumos e quem sabe, discutindo acerca dos projectos da nossa vencedora.

Aí recordei-me da “nossa palhaçada”, nós os universitários desta província que, no período de férias, tentamos idealizar isto e aquilo, no sentido de, com as nossas ideias, ajudar o município e o governo na luta pelo desenvolvimento da cidade, da província e do país em geral. Contudo, somos muitas vezes ignorados e não temos espaço para fazer valer as nossas ideias, talvez sejam utópicas ou acima da capacidade e necessidade dos órgãos de governação local.

Numa dessas nossas palhaçadas, solicitamos apoio no sentido de o Conselho Municipal da Cidade de Inhambane conceder uma viatura para uma deslocação para uma das praias de Inhambane com o objectivo de convivermos entre universitários de Inhambane o que serviria igualmente para nos despedirmos do resto dos irmãos visto que, o período de repouso já terminou. Nisto tudo, o Conselho Municipal respondeu favoravelmente só que, chegado o dia marcado, nada ocorreu conforme o previsto. Foi nos dado um camião, por sinal o que faz carregamento de lixo para segundo eles, com ele nos deslocarmos à praia. Engraçado não é?

Dai me questionei, afinal, a quem se deposita a esperança do progresso da província. Os futuros quadros são marginalizados e relegados para o segundo plano e em contrapartida dá-se maior atenção a um vencedor de concurso de música que, julgo eu, nem ideia de como gerir seu prémio tem. Não quero aqui condenar a menina Lichucha, pelo contrário, sou apologista dos seus feitos, quero sim chamar atenção aos órgãos e membros do governo local e central no sentido de tomar consciência das suas acções e prever as respectivas consequências.

Será que a música garante-nos um futuro promissor? Que atitude se espera dos estudantes que neste momento são marginalizados e ignorados, depois do término dos seus cursos? Que não venham posteriormente reclamar a fuga de quadros da província e do país, isto será resultado do vosso comportamento no presente.

Alvo Naftal Ofumane

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Modernização ou marginalização de África?




Há muito tempo que desejava partilhar das muitas ideias ou questões que me inquietam no dia-a-dia, relativamente ao fenómeno do momento. A globalização.

Do ponto de vista Ocidental, aparentemente, o objectivo que se pretende alcançar com a tal fatalidade, a globalização, é a eliminação de fronteiras entre Estados, países e continentes, reduzindo deste modo, as diferenças raciais, económicas, sociais e até culturais; eliminação do conceito de Norte e Sul, do Este e Oeste, pela homogeneização de hábitos e modus vivendi entre todos os povos do planeta.

Isto implica, numa primeira fase, a transferência de técnicas, técnicos e tecnologias dos países Ocidentais para os países ditos pobres e, para África particularmente no sentido de estabelecer um equilíbrio económico, porque só assim é que podemos “falar a mesma língua”, aliás, além das técnicas, técnicos e tecnologias, transferem-se também as línguas, o Inglês principalmente. Eles (Ocidentais) oferecem-nos os seus computadores, os seus satélites, enfim, tudo quanto é necessário para se avançar rumo a um país ou Estado moderno.

Já do ponto de vista dos africanos, nem todos eles, visto que alguns, tal é o meu caso e de tantos outros “amigos” meus como Elísio Macamo, Florentino Dick Kassotche, Robert Mugabe e muitos outros que não posso aqui mencioná-los na totalidade, o fenómeno do momento implica uma base para se avançar rumo ao desenvolvimento ou modernidade. Os europeus “oferecem-nos” seus computadores, ensinam-nos a falar as línguas europeias, o Inglês principalmente, a usar a Internet, oferecem-nos os seus carros e transitamos, automaticamente da carroça animal, os seus aviões, enfim, tudo de “bom” que o africano não tinha. E eles, o que ganham em troca? Será que eles têm a missão “divina”, como alegavam com o colonialismo, de civilizar/modernizar a África e não desejam ou não têm nenhum retorno ou ganho? Que estranho.

Enquanto eles seleccionam o que querem ou devem enviar a África, inclusive os seus técnicos, no sentido inverso já não acontece o mesmo. São eles novamente que vêm para África e fazem a selecção do que querem e deixam o que não lhes interessa.
Dentre tantos outros, os produtos de que eles precisam são: o ouro, o diamante e o petróleo. Se nós queremos vender-lhes os produtos que produzimos internamente, tal é o caso do açúcar (em Moçambique), somos sujeitos a pagar taxas elevadíssimas visto que o nosso açúcar não é moderno.

Afinal, quem está de facto ajudando o outro a desenvolver? África ajudando o Ocidente ou o inverso.

O que me parece, na minha visão pacata e limitada, é que a África foi quem sempre ajudou o Ocidente a desenvolver e atingir o estagio actual e que ainda hoje o faz. O ouro, diamante e petróleo extraídos de África, quem faz a classificação, categorização e marcação dos preços é o Ocidente, mas para os Africanos, quem deve marcar os preços dos seus produtos são “eles”, que já são modernos.

Portanto, como diz o meu “amigo” Boaventura de Sousa Santos (2001), a Globalização é o conjunto de trocas desiguais, pelo qual um determinado artefacto, condição, entidade ou identidade local estende a sua influência para além das fronteiras nacionais...(pág. 69), os países Ocidentais estão mais preocupados em alargar o seu espaço de influência e exercendo ou dando continuidade a ideia de dominação(colonização, marginalizando deste jeito os africanos com a ideia de modernidade que, no meu entender, carece duma explicação exaustiva, ou então cada um tem o seu conceito de modernidade e, neste sentido, não seria necessária a intervenção Ocidental para tornar os africanos modernos, que sejam eles mesmos a definir o que é ser moderno para eles e quais são os passos a dar convista a alcançar o tal estágio.

CADÊ GABINETE DE APOIO ÀS VÍTIMAS DOS INCÊNDIOS

Nos últimos anos, Moçambique tem sido assolado por uma vaga e contínua onda de desastres, tanto naturais como os que resultam da acção ou inacção do próprio Homem.
Todos nós assistimos as primeiras grandes cheias, pelo menos por mim vividas desde que tenho consciência de ser um ser humano, no ano 2000. era o começo ou o baptismo duma situação que vem se prolongando até aos dias de hoje.

Na altura, certamente que todos nós achámos o fenómeno tão natural e não foi de grande espanto para a maioria de nós. Só que com esta, parece-me ter sido apenas o começo de uma série de tantas outras calamidades.

Deixem-me testar a capacidade da minha memória, já que, sendo africano, não podia fugir da regra dos meus antepassados. Os seus registos dos grandes acontecimentos ou factos eram marcados simplesmente na memória, raras vezes ou nunca faziam registos por escrito, o que nos tira a legitimidade de obreiros de muito conhecimento espalhado por todo o mundo. Também faço poucos registos e, por sinal, os que fortemente me marcam ,não quer isto dizer que as catástrofes não me sejam marcantes, sim não tenho registo de todas elas.

Mas, deixemos estas brincadeirinhas para lá e voltemos ao que nos interessa neste momento. Como disse antes, vou testar a minha memória para ver se ela tem o registo de quase todas catástrofes ocorridos desde o ano 2000.

Depois das retro mencionadas cheias de 2000, seguiu-se em 2003, o ciclone jafette, que devastou algumas zonas do sul de Moçambique. Daí veio a depressão tropical catrina, seguiram-se em 2004/6, cheias no centro e norte de Moçambique, com maior enfoque para o vale do Zambeze. De lá para cá, foram ocorrendo pequenos desastres sem grande notabilidade.

Em 2007, o propósito desta pequena escrita, é, até agora, o ano mais azarado e ao mesmo tempo de muita sorte. É natural que o termo sorte aqui aplicado suscite muitas inquietações ao leitor, é tão simples quanto isto, é o ano que pode ser considerado como sendo o “ ano da conclusão das nacionalizações” pelo menos no que diz respeito aos patrimónios antes pertencentes ao governo português, refiro-me à passagem da administração maioritária da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) para o governo Moçambicano.
Olhando para o lado negativo, isto é, azarado, bem! não me deixem falar demais, é o seguinte: primeiro foram as cheias no centro de Moçambique, concretamente no vale do Zambeze que deixaram centenas de famílias sem abrigo, comida, etc,etc.
Face a toda situação referente às calamidades naturais, o governo Moçambicano potenciou o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) para providenciar o apoio necessário às famílias afectadas.

Seguiram-se depois as famosas explosões do paiol de Mahlazine que, vieram recordar momentos tão tristes para os moçambicanos. Já que disse anteriormente, não tenho registadas todas as catástrofes ocorridas, quero com isto justificar a “omissão” das explosões do paiol na cidade da Beira, por sinal e por se tratar do período das férias na minha faculdade, estava fora do país em gozo das minhas férias, não tendo por isso muitos dados sobre estas explosões que possa pintar as linhas deste papel. Depois das trágicas explosões “centrais” de Mahlazine, várias outras se vem registando em toda província e cidade de Maputo. Em resposta a estas explosões, o Governo, através do Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM), criou um Gabinete de Apoio às vítimas das explosões, que presta apoio às famílias vítimas, principalmente no que toca à reconstrução das casas destruídas pelas explosões.

Após as explosões, o grande facto que a minha fraca memória tem como registo neste momento são os incêndios, primeiro o que ocorreu no Ministério da Agricultura, que destruiu quase todo edifício e afectou os departamentos-chave daquele ministério, nomeadamente o Gabinete do Ministro, da vice Ministra, o Departamento do PROAGRI e o Departamento onde funcionava o Instituto Nacional de Veterinária. Veio depois o incêndio das bombas de combustível da Catembe que criaram um ambiente de pânico aos moradores daquela região,
Dadas as situações acima descritas, não é chegado o momento para dizer “cadê o Gabinete de Apoio às vítimas dos incêndios”? para dar resposta aos estragos que estes incêndios criaram...

Isto para não falar dos tantos outros incêndios que se registam em todos os lados e, tampouco dos muitos outros problemas que afectam este país, o caso da criminalidade, mas para este caso, o meu honrado docente Salomão Moyana tem insistentemente dando puxão de orelhas nos seus famosos editoriais, cá comigo viremos a tratar deste assunto nas próximas ocasiões.