quinta-feira, 18 de junho de 2009

As ‘manias’ dos nossos jornalistas!

A ‘purificação’ da classe jornalística moçambicana sempre constituiu preocupação minha, não apenas por esta ser a minha área de formação, como também pelo valor e responsabilidades que julgo ter um jornalista perante a sociedade.

Na minha concepção, e de muitos pensadores da área de comunicação, só com bom jornalismo é que se pode ter cidadãos cultos e interventivos. Portanto, o jornalista não deve contribuir para fazer valer os interesses das grandes companhias e dos políticos. Ele não deve contribuir para a formação de massas, deve sim, empenhar-se na formação de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, capazes de intervir e participar na vida política e social do país .

Se tivermos uma classe jornalística deficiente, certamente que teremos uma massa amorfa e inútil, no lugar de cidadãos. A reflexão que segue, foi por mim escrita e publicada no espaço de opinião do jornal Notícias do dia 23 de Maio do presente ano, momento em que, por sinal, anda meio desligado deste blog, porque me encontrava a trabalhar para um jornal electrónico. Mas devo aproveitar esta oportunidade para informar que, a partir do dia 09 de Junho já desliguei-me do tal, porque decidi dedicar maior parte do meu tempo meditando.
Vamos ao escrito.

Dignifiquemos a classe jornalística

Alvo Ofumane

Há quase quatro anos que estudo jornalismo e há um ano e sete dias que trabalho como jornalista, mas confesso sentir muita falta do contacto exterior, porque muito cedo me foi incumbida a tarefa de editor do órgão de informação onde trabalho, o que não me permite fazer saídas constantes para a cobertura de assuntos, razão também que faz com que tenha presenciado muito poucas estórias que ocorrem no seio da nossa classe jornalística. No entanto, no dia 20 de Maio do ano em curso fui fazer cobertura duma conferência de imprensa na Direcção Geral das Alfândegas, na qual o Director Geral, o Sr. Domingos Tivane deu o rescaldo da reunião da Organização Mundial das Alfândegas (OMA) para a região da África Austral e Oriental, que teve lugar entre os dias 14 e 15 de Maio no Zimbabwe, assim como fazer o balanço dos dois mandatos de Moçambique enquanto vice-presidente da OMA para a região.

O evento decorreu normalmente. Finda a conferência, eis que para o meu espanto, depois de se ter providenciado uma água (em garrafas de 500ml – 0.5L), como aliás acontece em todas as casas organizadas e hospitaleiras. Todos tomaram uma garrafa, um dos meus colegas de profissão, que desconheço o nome, e mesmo se o conhecesse não o diria, nem o do seu órgão, ao invés de tomar uma garrafa de água, o que julgo ser suficiente para matar a sede, enquanto sorria para o servente disse “deixa-me levar duas” e assim o fez. Senti-me mal, mais ainda porque estava próximo dele.

Na sociedade moçambicana, um jornalista tem sido conotado com um indivíduo faminto e “biscateiro”, e eu sempre questionava o porquê desta falta de consideração, achando de injusta esta atitude de muitos dirigentes, empresários e da sociedade no geral.

O jornalista é um elemento preponderante para uma sociedade. É ele quem traz o mundo às pessoas; é ele quem alimenta as conversas do dia-a-dia, nos cafés, nos bares, nas escolas, nos postos de trabalho, enfim, é ele quem dita a agenda das pessoas; é ele quem dita as formas de pensar e de agir das pessoas, e é ele quem define o que as pessoas devem pensar e de como devem pensar. Imaginemos um dia de greve de jornalistas em qualquer parte do mundo, o que seria desse país? O jornalista é importante sim.

Porém, após a atitude do meu colega na conferência de imprensa, em parte dou razão àquela concepção de jornalista como um indivíduo faminto, pois, pressuponho que não são raras as situações de género que acontecem. Jornalistas que vão cobrir eventos só para usufruir do cocktail e, como sempre, comem descontroladamente, além de que o jornalista ensinou à sociedade que “jornalista é aquele indivíduo sempre mal apresentado”, virando objecto de conversa dos dirigentes, que se aproveitam da sua fraqueza para manipulá-lo e promover a sua imagem a custo de cocktails, ‘gorjetinhas’, palmadinhas nas costas e almoços, se não a custo zero.

Por favor meus companheiros, tenhamos atitude, honra e orgulho, e não nos deixemos comprar nem vender a nossa dignidade e honra e manchar a imagem da classe por um simples cocktail. Devemos construir uma classe jornalística respeitada e que mereça um tratamento e consideração exemplar, e, neste caso, a responsabilidade e dever é tudo nosso.

Muitas vezes levanta-se a questão dos baixos salários dos jornalistas. É uma questão a se ter em conta pois, as nossas empresas jornalísticas também não ajudam nesse sentido, trabalham com recrutas sem nenhuma noção de jornalismo para não pagar bons salários e demais regalias, isto para não falar da falta de contractos de trabalho nos nossos órgãos de comunicação, trabalha-se mesmo em “regime de biscato”.

No entanto, apesar de todas estas dificuldades, não é motivo para se vender a honra.
Bem-haja jornalistas exemplares, com postura profissional apurada, e que mereçam respeito de toda a sociedade. Muito obrigado.

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